Aerogéis à base de batata-doce ampliam soluções verdes para a indústria

Três mulheres em jalecos de laboratório brancos e luvas azuis sorriem para a câmera em um laboratório. A mulher à esquerda segura um copo de medição com um líquido transparente. A mulher no centro segura pequenas amostras de material em suas mãos enluvadas. A mulher à direita segura uma batata-doce e uma pequena quantidade de pó branco. Prateleiras com vidraria de laboratório e outros equipamentos são visíveis ao fundo. Fim da descrição.
Desenvolvida por pesquisadores da Unicamp, a tecnologia tem potencial para tratamento de poluentes em águas, ar e solo, além de substituir o isopor e contribuir para a engenharia de tecidos

Texto: Adriana Arruda – Inova Unicamp  | Fotos: Pedro Amatuzzi – Inova Unicamp 

O aerogel é um material composto extremamente leve e poroso, com baixa densidade, alta resistência e notáveis propriedades isolantes térmicas, características funcionais para aplicação em diversas áreas industriais e ambientais. Apesar dessas qualidades, sua produção em larga escala tem sido limitada pelo uso de matérias-primas que, frequentemente, não são biodegradáveis ou compatíveis com processos sustentáveis.

Com o intuito de sanar esses desafios, pesquisadores da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) e da Faculdade de Tecnologia (FT) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolveram aerogéis à base de amido de batata doce

“O aerogel de amido de batata doce baseia-se em um polímero natural e biodegradável, oferecendo uma alternativa viável a materiais sintéticos que geram impactos ambientais”, explica Carolina Siqueira Franco Picone, docente da FEA e uma das inventoras da tecnologia.

Outro grande diferencial da tecnologia desenvolvida na Unicamp é seu método de produção, que se destaca pela rapidez e simplicidade, sem a necessidade de solventes orgânicos complexos. “Muitos processos convencionais de produção de aerogéis envolvem a troca de solventes, utilizando etanol ou CO2, o que gera resíduos e demanda alto consumo energético. No nosso método, adotamos uma abordagem que permite reduzir etapas críticas do processo, com menor impacto ambiental e maior eficiência energética, resultando em um processo mais limpo e eficiente”, destaca Picone. 

De agente despoluente a substituto de isopor

Já testada em laboratório, a invenção possui aplicabilidade como agente despoluente de águas residuárias, auxiliando na remoção de substâncias indesejáveis da água.

“O que o torna ainda mais interessante é sua forma tridimensional: diferente de outros materiais adsorventes, que geralmente são encontrados em pó e exigem uma etapa de filtração após o uso, o aerogel pode ser facilmente removido do meio líquido sem necessidade desse processo, o que reduz custos e torna o tratamento da água mais eficiente. Além disso, ele não apresenta toxicidade, um fator essencial para garantir segurança ambiental e para o consumo humano”, detalha Patricia Prediger, docente da FT e que também contribuiu para o desenvolvimento do material.

Uma mulher com cabelo castanho escuro e um jaleco branco de laboratório segura um pequeno cubo branco com uma luva azul. O cubo é o foco da imagem. O fundo desfocado trata-se de laboratório. Fim da descrição.

Prediger explica que os aerogéis podem atuar tanto por absorção quanto por adsorção, processos que diferem na forma como os poluentes são capturados. “Na absorção, o poluente é incorporado no interior do material, enquanto na adsorção, ele adere à superfície. Isso permite que o aerogel seja usado não apenas para remover contaminantes da água, mas também do ar e do solo, seja capturando partículas, gases nocivos ou até mesmo auxiliando na degradação química de poluentes”, acrescenta.

Além disso, a tecnologia tem grande potencial de uso em outras áreas, como alternativa ao isopor em embalagens, fornecendo uma opção biodegradável e menos agressiva ao meio ambiente; na engenharia de tecidos, para o desenvolvimento de materiais para próteses e cultivo celular; e em processos industriais que exigem materiais isolantes térmicos leves, como construções civis.

“Sua estrutura permite a liberação controlada de bioativos em alimentos e fármacos, além de servir como possível suporte para enzimas em diversos processos industriais. Outra aplicação promissora é como suporte para o crescimento de células, criando uma base tridimensional que favorece a adesão e proliferação celular, beneficiando tanto os alimentos plant-based quanto a biomedicina”, exemplifica Picone.

A invenção culminou em um pedido de patente com o suporte da Agência de Inovação Inova Unicamp, órgão responsável pela análise estratégica da proteção da propriedade intelectual da Universidade. 

“Esta foi a minha primeira experiência com a Inova e superou minhas expectativas. Todo o apoio foi excelente, principalmente na questão de redação do documento. A equipe respondeu prontamente às dúvidas e auxiliou ativamente no levantamento de anterioridades para analisar o ineditismo da tecnologia”, ressalta Picone.

Alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU), especialmente ao ODS 11 – Cidade e Comunidades Sustentáveis, a invenção promove práticas mais verdes, especialmente em ambientes urbanos. “A aplicação do aerogel pode ajudar as indústrias a se adequarem às necessidades de sustentabilidade, alinhando-se com as metas globais estabelecidas pela ONU”, finaliza Prediger.

Fotografia de um ambiente de laboratório mostra vários itens em uma superfície cinza. Dois tubérculos de batata-doce roxos repousam à esquerda. Ao centro, um vaso preto com uma pequena planta verde, e um cubo branco repousa sobre uma das folhas da planta. À direita, um pequeno prato com um pó branco e uma placa de Petri contendo comprimidos coloridos e mais cubos brancos. Um copo de béquer com líquido transparente está à direita. O fundo é cinza e desfocado. Fim da descrição.

Além das duas docentes, participaram do desenvolvimento da invenção os pesquisadores Ana Clara Troya Raineri Fiocco e Rafael Contatori dos Santos, da FEA, e Natchelie Pereira da Costa Santos, da FT. Atualmente, a tecnologia está disponível para licenciamento por empresas interessadas em usar o material em suas soluções no mercado. Mais informações sobre a tecnologia podem ser obtidas no portal da Inova Unicamp.

Como licenciar uma tecnologia na Unicamp

A Inova Unicamp disponibiliza no Portfólio de Tecnologias da Unicamp uma vitrine tecnológica. Empresas e instituições públicas ou privadas podem licenciar a propriedade intelectual desenvolvida na Unicamp, com ou sem exclusividade, tais como patentes, cultivares, marcas, software e know-how. O contato e negociação é realizado diretamente com a Agência de Inovação da Unicamp pelo formulário de conexão com empresas.

A Inova Unicamp também oferta as tecnologias para as empresas, com a intenção de que o conhecimento gerado na Universidade chegue em forma de soluções ao mercado e à sociedade. Para conhecer outros casos de licenciamento de tecnologias da Unicamp acesse o site da Inova.

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